quinta-feira, 14 de setembro de 2023

Falta de professores

 

Com o início do ano letivo, volta a ser notícia a falta de professores, principalmente em algumas zonas onde o custo de habitação é superior. Refira-se que, além daquelas, há escolas situadas noutras zonas do país que também têm dificuldade em contratar os professores de que necessitam.

A médio/longo prazo, o governo terá de preparar e pôr em prática uma estratégia que permita formar mais professores. A curto prazo, o problema apenas pode ser minorado e há uma medida que, se fosse implementada, resolveria parte significativa do problema: a atribuição de um subsídio para ajudar os professores a pagar a deslocação e o alojamento quando forem colocados numa escola localizada longe da sua área de residência. O valor do subsídio deveria ser atribuído em função da distância (quanto maior a distância, mais elevado seria o subsídio)  

Um professor contratado ganha, em termos líquidos, entre 1100 € e 1200 € (com horário completo). Apesar de continuar a haver alguns professores não colocados (a maioria reside no Norte do país), os mesmos não estão disponíveis para trabalhar a centenas de quilómetros da sua área de residência auferindo valores tão baixos.  

quinta-feira, 3 de agosto de 2023

Mercado de arrendamento

 

Portugal enfrenta um problema sério no mercado de arrendamento. Há muitas medidas que podem ser aplicadas para atenuar e/ou reduzir as suas consequências, mas não tenho dúvidas nenhumas de que, em termos estruturais, a solução para o mercado de arrendamento não existe se não forem construídas mais casas.

Se a falta de casas para arrendar está no desequilíbrio entre a oferta e a procura (com a procura a ultrapassar a oferta), então a solução terá de passar, inevitavelmente, pela construção (aumento da oferta). Qualquer medida que limite ou prejudique a construção de casas apenas irá agudizar e perpetuar a situação.

sexta-feira, 14 de julho de 2023

Mais-valias na venda de jogadores

 

Nesta altura no ano, os clubes de futebol fazem os ajustes necessários nos seus plantéis, despachando os jogadores que não interessem e adquirindo os jogadores necessários ao preenchimento de lacunas.

A compra de um jogador em determinado ano não implica que os resultados desse período sejam afetados negativamente em montante igual, dado que o valor do passe é um ativo do clube cuja desvalorização ocorre ao longo do período da duração do contrato. Se, por exemplo, um clube adquirir 100% dos direitos de um jogador por 100 milhões de euros e estabelecer com ele um contrato de 5 anos, apenas 20% dos custos serão imputados em cada um dos 5 anos de duração do contrato.

Além disso, seja por necessidade de liquidez e/ou resultados, oportunidade de negócio ou incapacidade, os clubes de futebol vendem jogadores, muitas vezes a clubes estrangeiros com melhores capacidades financeiras. A venda de jogadores gera receitas para os clubes que detêm os respetivos passes e, mesmo que determinado clube possua 100% do passe de um jogador, o valor gerado na venda nunca determina uma mais-valia no mesmo montante. De uma forma simplificada, a mais-valia (a que influenciará o resultado líquido) é determinada pela diferença entre o valor da venda e o valor contabilístico (valor de aquisição menos as amortizações acumuladas) — normalmente, ao valor da venda são deduzidos outras parcelas, como os custos de intermediação ou as responsabilidades com o mecanismo de solidariedade, entre outros.

Imagine-se um clube de futebol que adquiriu 100% do passe de um jogador por 10 milhões de euros, estabelecendo com ele um contrato de 5 anos. Dois anos depois, o clube vendeu o jogador por 20 milhões de euros. A mais-valia apurada na venda do jogador será determinada da seguinte forma: 20 milhões – (10 milhões – 10 milhões x 20% x 3) = 16 milhões de euros. Neste caso, a mais-valia gerada pela venda do jogador será de 16 milhões de euros. Para simplificação dos cálculos, optou-se por não incluir outros custos, como os custos de intermediação ou prémios de assinatura. 

quarta-feira, 5 de julho de 2023

Tipo de taxa nos empréstimos

 

Como vimos nos últimos artigos publicados no blogue, a inflação — e o respetivo aumento das taxas de juro para a combater — influenciará o valor das prestações pagas pelos clientes bancários. Na altura da negociação de um empréstimo, o cliente bancário pode escolher uma taxa de juro variável ou fixa — em muitos empréstimos é utilizada uma taxa de juro mista, fixa numa parte inicial do contrato e variável no restante período.

Nos empréstimos com taxa fixa, o valor das prestações mantém-se estável durante determinado período. Pelo contrário, as prestações relativas aos empréstimos com taxas variáveis aumentarão ou diminuirão em linha com o indexante (normalmente, a Euribor).

Em Portugal, as taxas variáveis são as mais utilizadas nos empréstimos, representando cerca de 90% do total. Na análise aprofundada que deve ser feita antes da contratação de um empréstimo, o devedor tem de avaliar muito bem as vantagens e as desvantagens da taxa fixa e da taxa variável. Normalmente, as taxas fixas são mais elevadas, mas protegem o devedor dos aumentos das taxas de juro. Nos empréstimos com taxas variáveis, o valor das prestações é volátil e aumentará ou descerá conforme a direção das taxas de juro. A taxa variável permite que o devedor beneficie de uma taxa de juro mais baixa no início do contrato, assim como nos momentos em que o indexante está a diminuir. Na escolha da taxa variável, o devedor deverá avaliar muito bem a sua capacidade para pagar as prestações caso haja um aumento significativo, e por vezes repentino, das taxas de juro.

sábado, 1 de julho de 2023

Ficha de Informação Normalizada Europeia (FINE)

 

Normalmente, o crédito à habitação é a obrigação que implica o maior esforço financeiro da vida das pessoas, pelo que devem analisadas e comparadas todas as opções disponíveis. Nos vários prazos apresentados/disponíveis, as famílias devem avaliar se têm condições financeiras para pagar as prestações durante todo o período do empréstimo.  

A FINE é um documento que deve ser entregue pelos bancos aos clientes bancários quando estes solicitam uma simulação de um empréstimo destinado à compra de habitação e na altura da aprovação do contrato de crédito. Esta ficha segue modelos padronizados, pelo que facilita a comparação entre as várias opções disponíveis no mercado.  

Entre as características do empréstimo e outras informações importantes (TAEG, TAN, MTIC…), a FINE deve identificar o montante de cada prestação no pior cenário, sendo que este deve respeitar à taxa mais elevada dos últimos 20 anos — ao pedir uma simulação num banco, a FINE deverá indicar qual é o valor da prestação caso o indexante (Euribor) atinja o valor mais elevado dos últimos 20 anos. Para quem pretende contrair um empréstimo junto de uma entidade financeira, esta informação é deveras importante para avaliar a capacidade financeira de pagar os valores das prestações caso o indexante suba até aos valores mais altos dos últimos 20 anos. No quadro de reembolso, o cliente bancário ficará a saber qual é o acréscimo que terá na sua prestação (e respetiva composição) devido ao aumento da taxa de juro.

quinta-feira, 29 de junho de 2023

Empréstimos com taxa variável

 

Entre os países da Zona Euro, Portugal é um dos que mais recorrem à taxa variável nos empréstimos. Se considerarmos todos os empréstimos, o peso dos empréstimos com taxa variável é de 82,5% do total.

Fonte: Eco


Nos empréstimos com taxa variável, a taxa de juro de um empréstimo resulta da soma do indexante (Euribor) com o spread. Nas últimas revisões, o Banco Central Europeu optou por aumentar as taxas de juro para controlar a inflação, pelo que as prestações refletem rapidamente o agravamento das Euribor. Refira-se que o Banco Central Europeu não aumenta as Euribor, mas apenas as taxas de juro diretoras (preço que o BCE cobra aos bancos comerciais por lhes emprestar dinheiro) — como os bancos comerciais têm mais dificuldade em captar dinheiro, também cobram mais para o emprestar.

Nos últimos anos, Portugal foi dos países onde os custos dos empréstimos eram menores, sendo que a utilização massiva da taxa variável era uma das principais causas. Neste momento, como as taxas variáveis dependem das taxas Euribor e este indexante subiu significativamente nos últimos meses, as famílias e empresas portuguesas com empréstimos contraídos são das que mais sofrem com a subida das taxas de juro.

sábado, 24 de junho de 2023

Hífen e travessão

 

Na escrita devemos fazer os possíveis para que a pontuação seja bem utilizada. O travessão e o hífen são dois sinais de pontuação visualmente semelhantes, apenas distinguíveis pelo tamanho. O hífen é o sinal mais pequeno (-) e o travessão é maior (—). No word não há uma tecla direta para escrever o travessão, razão pela qual muita gente acaba por os confundir mais facilmente.

O travessão deve ser usado, entre outros, quanto se pretende introduzir um diálogo ou na divisão de frases; o hífen deve usar-se, por exemplo, nas palavras compostas (decreto-lei e primeiro-ministro, entre outras). Além disso, na utilização do hífen não precisamos de deixar espaço entre ele e as palavras; na utilização do travessão é necessário deixar espaço antes e depois.

quarta-feira, 21 de junho de 2023

Ranking das escolas

 

Nos últimos dias, depois de serem conhecidos os rankings das escolas, uma amálgama de gente discorreu sobre a importância deste estudo: uns aplaudem-no; outros dizem que não faz sentido. 

Pessoalmente, considero o estudo positivo, uma vez que permite analisar alguns parâmetros importantes relativamente ao trabalho que as escolas portuguesas têm desenvolvido. Considero que a média de exame é um dos critérios mais adequados para se avaliar a posição de uma escola, dado que se trata de um tipo de avaliação externa com um comprometimento elevado por parte dos alunos. Compreendo a posição de alguns críticos dos rankings, que desvalorizam o estudo e criticam-no por ele ter em conta escolas de índole diferente. É verdade que as escolas públicas integram alguns alunos que, devido ao meio socioeconómico em que vivem, não estão em condições de competir com os alunos das escolas públicas, pelo que parte da disparidade dos resultados obtidos pode ser explicada por aqueles fatores.

Mais do que olhar para os números de forma isolada, gosto de olhar para as tendências e os dados históricos existentes mostram que as escolas públicas têm vindo a perder preponderância no ranking.

Relativamente à comparação entre as notas obtidas no exame e as notas dadas internamente, não observo nenhuma diferença significativa entre os dois tipos de escola: tanto nas escolas públicas como nas privadas, em geral, as notas internas são superiores às notas obtidas nos exames. A exceção está nas escolas que não estão tão bem classificadas: em algumas das escolas com piores notas, a diferença entre as notas obtidas nos exames e a nota final é muito grande — escolas com nota interna de 14 ou 15 valores têm média de exame de 8 ou 9 valores.

Como se trata de médias e por isso não é possível identificar quais são os alunos cuja diferença entre a nota obtida no exame e a nota interna é superior, acredito que parte significativa das diferenças verificadas esteja nos alunos com notas mais baixas…

quinta-feira, 15 de junho de 2023

Balança corrente

A balança corrente é uma dos componentes da balança de pagamentos e é composta pelas balanças de bens, serviços, rendimento primário e rendimento secundário. A balança corrente regista todas as transações efetuadas com o resto do mundo, exceto os movimentos de capitais e de ativos financeiros. 

No século XXI, o saldo da balança corrente foi positivo no período compreendido entre 2013 e 2019 e negativo nos restantes anos.

Fonte: Pordata


Os serviços e o rendimento secundário são as duas únicas componentes da balança corrente que apresentaram saldo positivo em todos os anos do período (século XXI). Pelo contrário, os bens e o rendimento primário apresentaram défices em todos os anos referidos.

Com uma interrupção nos anos 2020 e 2021 (anos de pandemia), o saldo da balança de serviços tem vindo a crescer significativamente ao longo do século XXI, fruto do aumento do turismo. Em sentido contrário, o saldo negativo (e com tendência descendente nos últimos anos) da balança de bens tem empurrado o saldo total para terreno negativo — na balança de bens e serviços, os bens representam cerca de dois terços do total, pelo que esta componente influencia fortemente o saldo total da balança corrente. 


sábado, 3 de junho de 2023

Os rótulos e o cappuccino

Os rótulos da generalidade dos géneros alimentícios pré-embalados têm de incluir algumas menções obrigatórias, como, por exemplo, a lista de ingredientes e a declaração nutricional. Apesar de não ser um especialista, costumo olhar com alguma atenção para os rótulos dos alimentos pré-embalados que compro, especialmente para aquelas duas referências.

A lista de ingredientes permite-me identificar a composição do género alimentício, sendo que a mesma é ordenada por ordem decrescente de peso. Sabendo que os primeiros ingredientes são os que estão presentes em maior quantidade, evito, sempre que possível, alimentos com elevado teor de açúcar ou gorduras (principalmente as insaturadas) — se o açúcar aparecer no topo da lista de ingredientes, então o género alimentício contém elevado teor daquele ingrediente. A declaração nutricional permite conhecer o valor energético e a quantidade de nutrientes (lípidos, hidratos de carbono, proteínas, sal, entre outras) do alimento.

Este programa,da Rádio Observador, ensinou-me a diferenciar o café do cappuccino. Conforme referido no programa, o cappuccino contém elevada quantidade de açúcar (ou equivalentes), razão pela qual deve ser bebido com moderação.


quarta-feira, 31 de maio de 2023

Hiperinflação alemã

 

No início do século XX, depois da Primeira Guerra Mundial, na Alemanha os preços chegaram a duplicar a cada 2 ou 3 dias. Esta hiperinflação foi provocada pelo aumento desenfreado de notas em circulação. Depois da Primeira Guerra Mundial, para pagar os custos da reconstrução e as dívidas aos restantes países, a Alemanha imprimiu muita moeda, sendo que o resultado foi a sua enorme desvalorização. Há relatos de pessoas que, na altura, utilizavam as notas para ascender a lareira, dado que o seu valor era muito baixo.

Ainda hoje, pressionados psicologicamente pela hiperinflação do século passado, os alemães são dos povos que mais receiam a inflação, tendo em conta as consequências trágicas que ela pode trazer às populações.

Desvalorização da moeda e inflação

 

A propósito das eleições na Turquia, que Erdogan acabou de vencer, e uma vez que se trata de um governante que está no poder turco há mais de 10 anos, vale a pena referir que, naquele período, a lira turca desvalorizou muito (recorde-se que Erdogan exerce cargos relevantes desde 2003  primeiro como primeiro-ministro, agora como presidente).

Por causa da taxa de câmbio, os produtos adquiridos no exterior ficam mais caros, pelo que a taxa de inflação é muito alta na Turquia. Há dez anos, os turcos tinham de despender pouco mais de duas liras turcas para pagar um euro, hoje têm de desembolsar mais de vinte e uma liras para liquidar o mesmo valor.  

sábado, 13 de maio de 2023

Inflação, deflação e desinflação

 

Seja por falta de conhecimento, pelo escasso brio profissional ou por qualquer outro motivo, os meios de comunicação social não têm transmitido corretamente o momento inflacionário em que vivemos. Perante as câmaras televisivas, há, inclusive, jornalistas indignados por a taxa de inflação estar a baixar e os preços ainda não estarem a diminuir.

A inflação consiste na subida generalizada dos preços dos bens e serviços. Para podermos distinguir claramente alguns conceitos importantes, apresenta-se o gráfico seguinte, que nos mostra a evolução da taxa de inflação durante oito períodos.



Entre o primeiro período e o terceiro período, os preços aumentaram a taxas crescentes – em cada um dos períodos subsequentes a taxa de crescimento dos preços foi superior à taxa de crescimento anterior.

Nos períodos quatro, cinco e seis, a taxa de inflação continua a apresentar crescimentos positivos, mas menores do que os anteriores. A desinflação consiste na desaceleração da taxa de crescimento dos preços. Atualmente, os preços dos bens e serviços continuam a aumentar, mas a ritmos cada vez menores.

No período sete e no período oito, os preços diminuem (deflação), pelo que a taxa de inflação apresenta valores negativos.

segunda-feira, 8 de maio de 2023

Monopólio na ferrovia

 https://tviplayer.iol.pt/programa/jornal-nacional/63e6588b0cf2665294d4f012/video/6457f0800cf2cf922505cced


Esta reportagem da TVI resume muito bem o estado atual da ferrovia portuguesa. Os monopólios, sejam privados ou públicos, provocam ineficiências que se traduzem na menor satisfação dos clientes. Além de existir um controlo maior sobre os preços praticados, os mercados de monopólio carregam a diminuição da qualidade dos produtos e dos serviços oferecidos. Não existe, por parte do monopolista, nenhum incentivo à melhoria dos produtos que vende e dos serviços que presta.

Há muito que me tinham falado da melhoria da ferrovia espanhola. Depois da liberalização, houve mais gente a preferir aquele tipo de transporte, as viagens ficaram mais baratas (com a entrada de novos operadores, incluindo operadores de baixo custo) e a qualidade dos serviços prestados melhorou significativamente.

Tal como referido na reportagem, com a entrada de novos concorrentes, até a empresa espanhola Renfe, que anteriormente era a monopolista, optou por lançar uma marca de comboios de baixo custo e por melhorar os serviços que presta. A ferrovia é uma aposta da União Europeia no que diz respeito aos transportes (ao contrário do que acontece com a aviação), pelo que os governos deverão implementar medidas que promovam a concorrência no mercado de transporte ferroviário.

domingo, 7 de maio de 2023

Carga fiscal e esforço fiscal

 

Os meios de comunicação social transmitem frequentemente notícias relacionadas com os impostos que pagamos. A carga fiscal e o esforço fiscal são dois dos indicadores mais utilizados pelos economistas (e pelos políticos) para medir a quantidade de impostos que pagamos. Estes dois indicadores permitem-nos avaliar o peso dos impostos na carteira das pessoas, mas têm significados e interpretações muito diferentes.

Se somarmos os impostos e as contribuições para a Segurança Social e dividirmos o valor obtido pelo PIB obtemos a carga fiscal. Este indicador reflete a percentagem de impostos pagos em função do que se produz. Os números de Portugal mostram-nos que a carga fiscal tem vindo a subir ao longo das últimas décadas, batendo recordes sucessivos. Apesar disso, a carga fiscal portuguesa continua a ser mais baixa do que a média da carga fiscal da União Europeia e é bastante mais baixa do que em alguns países da União Europeia (França, Dinamarca ou Suécia, entre outros). Este indicador (carga fiscal) tem a desvantagem de ser pouco eficaz quando se pretende comparar países com rendimentos e níveis de vida completamente diferentes. Se o rendimento dos alemães é superior ao dos portugueses, então é normal que a taxa de imposto dos alemães também seja superior. Em Portugal, como os impostos são progressivos, uma pessoa que aufira rendimentos superiores a outra também suportará uma taxa de imposto maior. Além disso, uma pessoa com rendimentos baixos que suporte 20% da taxa de imposto é muito mais sacrificada do que uma pessoa que tenha rendimentos muito superiores e que suporte a mesma taxa. Complementarmente, dois países com a mesma carga fiscal poderão oferecer às suas populações níveis de vida completamente diferentes, pelo que o esforço fiscal será menor nas populações cujos países oferecem um nível de vida superior.

Quando se pretende saber qual é esforço fiscal de duas pessoas com rendimentos completamente diferentes (por exemplo, uma pessoa que recebe 2 000 € e outra que recebe 10 000 €), não faz sentido comparar a carga fiscal dessas pessoas. Apesar de, naturalmente, a pessoa com mais rendimentos suportar uma carga fiscal superior, o esforço fiscal maior pode estar do lado da que ganha menos.

O esforço fiscal relaciona a carga fiscal com o nível de vida das pessoas, procurando medir o maior ou menor esforço que as pessoas fazem para pagar impostos - este indicador é determinado através da divisão da carga fiscal pelo PIB per capita (há outras formas que também são comummente utilizadas). A utilização deste indicador não é consensual, não só por existirem variados índices utilizados para medir o esforço fiscal e por isso haver diferentes opiniões acerca de qual é o mais correto, mas também por não existir consenso quanto às variáveis utilizadas em alguns dos índices.

Entre os países da União Europeia, Portugal aparece como um dos países com esforço fiscal mais elevado e bem acima da média da União Europeia. Por exemplo, a Dinamarca é um dos países em que o esforço fiscal é inferior à média da União Europeia, mas, pelo contrário, está entre os países com maior carga fiscal (superior à média da União Europeia).

sábado, 6 de maio de 2023

Quotas de música portuguesa na rádio

 

Na última semana, a Assembleia da República aprovou projetos de lei que obrigam as rádios a passarem, pelo menos, 30% de música portuguesa. Ao contrário do que muito boa gente arroga, considero que a medida não ajudará a música portuguesa, mas apenas protegerá alguns dos que já estão no mercado e nem precisariam desta lei para vingarem. As maiores rádios nacionais continuarão, como até agora, a passar as mesmas músicas vezes sem conta, para que a quota dos 30% seja alcançada.

Além disso, se as rádios forem obrigadas a passar música que os ouvintes não gostem de ouvir, haverá uma diminuição do número de pessoas que ouvem rádio. No longo prazo, a medida contribuirá para que a música portuguesa não evolua como podia e as rádios ficarão cada vez mais com falta de pessoas que estejam dispostas a ouvi-las.

sexta-feira, 14 de abril de 2023

Destruição criativa (continuação)

 

Vivemos num país em que o Estado apoia frequentemente empresas e modelos de negócio obsoletos. Mesmo que, geralmente, a intenção seja boa (ajudar as empresas a resolverem um problema que implicaria destruição imediata de emprego), a verdade é que os apoios dados a empresas com modelos de negócio obsoletos inibem a necessidade de mudança.

Em vez de deixar as empresas lutarem entre si pela sobrevivência e cada uma delas arranjar formas alternativas de superar as dificuldades, fazendo alterações necessárias nos seus modelos de negócio, a intervenção estatal imobiliza a capacidade de arriscar e de fazer as coisas de forma mais produtiva. Nestes casos, os apoios invertem completamente as características do livre mercado, visto que não se premeia o risco dos que têm modelos de negócio mais produtivos.

Além disso, em muitos casos, os apoios dados a empresas incumbentes com modelos de negócio obsoletos funciona como uma barreira à entrada de novas empresas, dado que o seu risco de negócio aumenta significativamente.

sábado, 8 de abril de 2023

Destruição criativa

 

A “destruição criativa”, expressão introduzida pelo economista austríaco Joseph Schumpeter no século XX, representa a essência do empreendedorismo. À medida que os empreendedores vão alterando as suas formas de produzir, inovando e deixando para trás técnicas e processos antigos, estão destruir criativamente.

Num processo de inovação, os empreendedores transferem recursos de um lado para o outro, uma vez que as atividades mais antigas deixarão de se produzir (e as pessoas que lá trabalhavam ficam sem emprego), enquanto as novas formas de produção absorverão a maioria dos recursos existentes (incluindo os trabalhadores que se conseguirem adaptar).  

A destruição criativa permite a inovação e o desenvolvimento de bens e serviços cada vez mais adaptados às exigências dos consumidores, pelo que a sua interrupção, deliberada ou não, acarreta consequências negativas para quem o fizer. É, por isso, importante que as empresas e os modelos de negócio obsoletos e inviáveis não sejam suportados artificialmente por interesses irracionais e/ou estranhos.

segunda-feira, 20 de março de 2023

Descentralização

 

Portugal é um dos países mais centralizados da Europa. Muitas das decisões são tomadas por organismos que estão localizados em Lisboa e, muito mais grave, têm em conta os problemas existentes em Lisboa.

Para que sejam concordantes com os problemas das pessoas, as medidas tomadas em cada local devem ser pensadas, implementadas e controladas o mais perto possível das populações. Não se trata de, simplesmente, deslocalizar os organismos de Lisboa para o resto do país, mas de dar mais poder a organismos locais para que possam tomar as decisões que afetam as respetivas populações. Por exemplo, cada uma das regiões deve ter a oportunidade de decidir se faz ou não sentido acabar com o alojamento local.

A descentralização permite que as decisões tomadas por cada um dos organismos locais respondam melhor aos problemas da população, uma vez que é possível atuar mais rápido e de forma mais cirúrgica a cada um deles. Além disso, com a descentralização a participação dos cidadãos aumenta, uma vez que eles têm a oportunidade de controlar melhor a implementação das medidas e de responsabilizar democraticamente os responsáveis políticos.

Em termos orçamentais, o Estado central português executa uma elevada percentagem da despesa pública. Em contrapartida, as autarquias locais executam menos de 15% da despesa pública. Nos países nórdicos, a despesa pública executada pelas autarquias locais é muito superior  por exemplo, na Dinamarca, as autarquias executam mais de 60% da despesa pública.    

Na minha opinião, a elevada centralização de Portugal é uma das razões do subdesenvolvimento verificado ao longo das últimas décadas.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

"Mercado" de habitação

 

Nos últimos anos, o mercado de habitação tem sido tema de acesas discussões. Com a subida dos preços das casas, as famílias são obrigadas a despender uma fatia cada vez maior do seu orçamento para o pagamento da habitação.

Os preços das casas sobem porque há um desequilíbrio entre a oferta e a procura. Relativamente à procura, são várias as causas do aumento: imigração, procura de oportunidades de trabalho, turismo, aumento do número de famílias por via da diminuição do número de pessoas que fazem parte dos agregados, etc. No que respeita à oferta, o número de casas construídas não tem acompanhado as necessidades habitacionais. Nos últimos 20 anos, o número de casas construídas tem vindo a descer de forma acentuada e constante. 

O Governo decidiu apresentar algumas medidas que visam dinamizar o mercado de habitação. O arrendamento coercivo das casas devolutas, proposto pelo Primeiro-Ministro, é claramente inconstitucional. Esta medida não irá ajudar a resolver o problema da falta de casas e das rendas elevadas, devendo até provocar o efeito contrário, aumentando a desconfiança dos senhorios no mercado de habitação.   

 

Artigo 62.º (Direito de propriedade privada)

1. A todos é garantido o direito à propriedade privada e à sua transmissão em vida ou por morte, nos termos da Constituição.

2. A requisição e a expropriação por utilidade pública só podem ser efectuadas com base na lei e mediante o pagamento de justa indemnização.  

domingo, 19 de fevereiro de 2023

Produtividade

 

A produtividade é um indicador económico, que é determinado através da relação existente entre o que se produz e o que se gasta para produzir, pelo que há várias formas de aumentar a produtividade: aumentando a quantidade e/ou valor do que se produz e/ou diminuindo os custos associados.

Uma empresa aumentará a sua produtividade se conseguir produzir mais quantidade com os mesmos recursos, mas também conseguirá aumentar a produtividade se mantiver a quantidade e reduzir os custos associados. Outra forma de aumentar a produtividade passará por aumentar o valor do que se produz  uma empresa que fabrique automóveis poderá vendê-los a um preço superior se criar outras funcionalidades ou dirigir-se a um segmento mais específico de mercado.

Sendo um indicador que mede a relação entre dois fatores (produção e fatores de produção), a produtividade aumentará sempre que, proporcionalmente, o numerador cresça mais do que o denominador ou o denominador diminua mais do que o numerador.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

Percentagem e ponto percentual

 

Facilmente encontro erros de análise baseados na confusão existente entre percentagem e pontos percentuais.

Um ponto percentual é a diferença, em termos absolutos, entre uma percentagem inicial e uma percentagem final. Se, em janeiro de 2023, em comparação com janeiro de 2022, a taxa de desemprego passou de 5% para 6%, o aumento do desemprego foi de um ponto percentual. No entanto, o aumento, em percentagem, foi de 20%. Ou seja, no período subsequente (janeiro de 2023) a taxa de desemprego subiu 20% relativamente ao período anterior (janeiro de 2022). Dito de outra forma, em janeiro de 2023 havia mais 20% de pessoas desempregadas, em comparação com janeiro de 2022  significa que, por cada 100 desempregadas em janeiro de 2022, em janeiro de 2023 havia 120 pessoas sem emprego.

Concluindo, os pontos percentuais dizem respeito a variações absolutas das percentagens, enquanto a percentagem representa uma oscilação em termos proporcionais.  

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Evolução das vendas em valor e em quantidade

 

Numa revista especializada, vários artigos analisam a evolução das vendas de alguns produtos fabricados e comercializados em Portugal (arroz, azeite, vinho, etc.). No último ano, a evolução das vendas de muitos dos produtos analisados foi semelhante: aumentos, por vezes significativos, das vendas em valor e diminuição das vendas em quantidade.

Ignorando a aposta em produtos de maior valor acrescentado (que seria positiva para o país, dado que permitiriam faturar mais com menores quantidades), aqueles dados confirmam que, no último ano, os preços dos produtos subiram significativamente. Em alguns dos produtos indicados, as vendas em valor cresceram a dois dígitos, apesar da respetiva diminuição em quantidade.