quarta-feira, 31 de maio de 2023

Hiperinflação alemã

 

No início do século XX, depois da Primeira Guerra Mundial, na Alemanha os preços chegaram a duplicar a cada 2 ou 3 dias. Esta hiperinflação foi provocada pelo aumento desenfreado de notas em circulação. Depois da Primeira Guerra Mundial, para pagar os custos da reconstrução e as dívidas aos restantes países, a Alemanha imprimiu muita moeda, sendo que o resultado foi a sua enorme desvalorização. Há relatos de pessoas que, na altura, utilizavam as notas para ascender a lareira, dado que o seu valor era muito baixo.

Ainda hoje, pressionados psicologicamente pela hiperinflação do século passado, os alemães são dos povos que mais receiam a inflação, tendo em conta as consequências trágicas que ela pode trazer às populações.

Desvalorização da moeda e inflação

 

A propósito das eleições na Turquia, que Erdogan acabou de vencer, e uma vez que se trata de um governante que está no poder turco há mais de 10 anos, vale a pena referir que, naquele período, a lira turca desvalorizou muito (recorde-se que Erdogan exerce cargos relevantes desde 2003  primeiro como primeiro-ministro, agora como presidente).

Por causa da taxa de câmbio, os produtos adquiridos no exterior ficam mais caros, pelo que a taxa de inflação é muito alta na Turquia. Há dez anos, os turcos tinham de despender pouco mais de duas liras turcas para pagar um euro, hoje têm de desembolsar mais de vinte e uma liras para liquidar o mesmo valor.  

sábado, 13 de maio de 2023

Inflação, deflação e desinflação

 

Seja por falta de conhecimento, pelo escasso brio profissional ou por qualquer outro motivo, os meios de comunicação social não têm transmitido corretamente o momento inflacionário em que vivemos. Perante as câmaras televisivas, há, inclusive, jornalistas indignados por a taxa de inflação estar a baixar e os preços ainda não estarem a diminuir.

A inflação consiste na subida generalizada dos preços dos bens e serviços. Para podermos distinguir claramente alguns conceitos importantes, apresenta-se o gráfico seguinte, que nos mostra a evolução da taxa de inflação durante oito períodos.



Entre o primeiro período e o terceiro período, os preços aumentaram a taxas crescentes – em cada um dos períodos subsequentes a taxa de crescimento dos preços foi superior à taxa de crescimento anterior.

Nos períodos quatro, cinco e seis, a taxa de inflação continua a apresentar crescimentos positivos, mas menores do que os anteriores. A desinflação consiste na desaceleração da taxa de crescimento dos preços. Atualmente, os preços dos bens e serviços continuam a aumentar, mas a ritmos cada vez menores.

No período sete e no período oito, os preços diminuem (deflação), pelo que a taxa de inflação apresenta valores negativos.

segunda-feira, 8 de maio de 2023

Monopólio na ferrovia

 https://tviplayer.iol.pt/programa/jornal-nacional/63e6588b0cf2665294d4f012/video/6457f0800cf2cf922505cced


Esta reportagem da TVI resume muito bem o estado atual da ferrovia portuguesa. Os monopólios, sejam privados ou públicos, provocam ineficiências que se traduzem na menor satisfação dos clientes. Além de existir um controlo maior sobre os preços praticados, os mercados de monopólio carregam a diminuição da qualidade dos produtos e dos serviços oferecidos. Não existe, por parte do monopolista, nenhum incentivo à melhoria dos produtos que vende e dos serviços que presta.

Há muito que me tinham falado da melhoria da ferrovia espanhola. Depois da liberalização, houve mais gente a preferir aquele tipo de transporte, as viagens ficaram mais baratas (com a entrada de novos operadores, incluindo operadores de baixo custo) e a qualidade dos serviços prestados melhorou significativamente.

Tal como referido na reportagem, com a entrada de novos concorrentes, até a empresa espanhola Renfe, que anteriormente era a monopolista, optou por lançar uma marca de comboios de baixo custo e por melhorar os serviços que presta. A ferrovia é uma aposta da União Europeia no que diz respeito aos transportes (ao contrário do que acontece com a aviação), pelo que os governos deverão implementar medidas que promovam a concorrência no mercado de transporte ferroviário.

domingo, 7 de maio de 2023

Carga fiscal e esforço fiscal

 

Os meios de comunicação social transmitem frequentemente notícias relacionadas com os impostos que pagamos. A carga fiscal e o esforço fiscal são dois dos indicadores mais utilizados pelos economistas (e pelos políticos) para medir a quantidade de impostos que pagamos. Estes dois indicadores permitem-nos avaliar o peso dos impostos na carteira das pessoas, mas têm significados e interpretações muito diferentes.

Se somarmos os impostos e as contribuições para a Segurança Social e dividirmos o valor obtido pelo PIB obtemos a carga fiscal. Este indicador reflete a percentagem de impostos pagos em função do que se produz. Os números de Portugal mostram-nos que a carga fiscal tem vindo a subir ao longo das últimas décadas, batendo recordes sucessivos. Apesar disso, a carga fiscal portuguesa continua a ser mais baixa do que a média da carga fiscal da União Europeia e é bastante mais baixa do que em alguns países da União Europeia (França, Dinamarca ou Suécia, entre outros). Este indicador (carga fiscal) tem a desvantagem de ser pouco eficaz quando se pretende comparar países com rendimentos e níveis de vida completamente diferentes. Se o rendimento dos alemães é superior ao dos portugueses, então é normal que a taxa de imposto dos alemães também seja superior. Em Portugal, como os impostos são progressivos, uma pessoa que aufira rendimentos superiores a outra também suportará uma taxa de imposto maior. Além disso, uma pessoa com rendimentos baixos que suporte 20% da taxa de imposto é muito mais sacrificada do que uma pessoa que tenha rendimentos muito superiores e que suporte a mesma taxa. Complementarmente, dois países com a mesma carga fiscal poderão oferecer às suas populações níveis de vida completamente diferentes, pelo que o esforço fiscal será menor nas populações cujos países oferecem um nível de vida superior.

Quando se pretende saber qual é esforço fiscal de duas pessoas com rendimentos completamente diferentes (por exemplo, uma pessoa que recebe 2 000 € e outra que recebe 10 000 €), não faz sentido comparar a carga fiscal dessas pessoas. Apesar de, naturalmente, a pessoa com mais rendimentos suportar uma carga fiscal superior, o esforço fiscal maior pode estar do lado da que ganha menos.

O esforço fiscal relaciona a carga fiscal com o nível de vida das pessoas, procurando medir o maior ou menor esforço que as pessoas fazem para pagar impostos - este indicador é determinado através da divisão da carga fiscal pelo PIB per capita (há outras formas que também são comummente utilizadas). A utilização deste indicador não é consensual, não só por existirem variados índices utilizados para medir o esforço fiscal e por isso haver diferentes opiniões acerca de qual é o mais correto, mas também por não existir consenso quanto às variáveis utilizadas em alguns dos índices.

Entre os países da União Europeia, Portugal aparece como um dos países com esforço fiscal mais elevado e bem acima da média da União Europeia. Por exemplo, a Dinamarca é um dos países em que o esforço fiscal é inferior à média da União Europeia, mas, pelo contrário, está entre os países com maior carga fiscal (superior à média da União Europeia).

sábado, 6 de maio de 2023

Quotas de música portuguesa na rádio

 

Na última semana, a Assembleia da República aprovou projetos de lei que obrigam as rádios a passarem, pelo menos, 30% de música portuguesa. Ao contrário do que muito boa gente arroga, considero que a medida não ajudará a música portuguesa, mas apenas protegerá alguns dos que já estão no mercado e nem precisariam desta lei para vingarem. As maiores rádios nacionais continuarão, como até agora, a passar as mesmas músicas vezes sem conta, para que a quota dos 30% seja alcançada.

Além disso, se as rádios forem obrigadas a passar música que os ouvintes não gostem de ouvir, haverá uma diminuição do número de pessoas que ouvem rádio. No longo prazo, a medida contribuirá para que a música portuguesa não evolua como podia e as rádios ficarão cada vez mais com falta de pessoas que estejam dispostas a ouvi-las.