domingo, 24 de agosto de 2025

Incoerências

 

Com o intuito de reduzir o consumo, o governo tributa severamente o consumo de tabaco; para as pessoas adquirirem outros bens mais amigos do ambiente, o governo implementa uma taxa sobre os sacos plásticos; para penalizar os que compram automóveis com elevados consumos de combustíveis fósseis, o Imposto sobre Veículos é mais elevado nos automóveis mais poluentes; para os proprietários manterem as casas em bom estado e habitadas, o governo agrava o Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) dos prédios devolutos.

Além destes, há inúmeros exemplos de impostos ou taxas que são criados ou agravados para diminuir o consumo ou penalizar os contribuintes, orientando-os para determinada direção. Não há dúvidas de que os impostos são usados pelos governos para alcançar objetivos específicos (excluo desta análise os objetivos puramente orçamentais).

Paradoxalmente, muitas das pessoas que são favoráveis à utilização dos impostos para alcançar objetivos específicos estratégicos (como os identificados acima), consideram que uma taxa de imposto sobre as empresas (Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas — IRC) elevada não tem nenhum efeito na atração e manutenção de empresas. Quando o imposto sobre o rendimento das pessoas (singulares ou coletivas) penaliza exageradamente os que trabalham mais ou os que são mais produtivos (as empresas com maiores lucros), o resultado só pode redundar no seu afastamento. O caso das empresas é ainda mais pernicioso, dado que o IRC penaliza as empresas maiores e mais produtivas, sendo as que conseguem pagar mais aos trabalhadores e as que poderiam contribuir mais para que a economia portuguesa se transformasse. 

terça-feira, 12 de agosto de 2025

Implicatura

 

Muitas vezes, o falante utiliza determinadas palavras pretendendo dar-lhes um sentido diferente do que está explícito. Ademais, por variados fatores (falta de tempo, desconhecimento do verdadeiro sentido das palavras, regionalismos, entre outras causas), nem sempre as palavras utilizadas são as mais adequadas.

Na oralidade, a utilização de palavras inadequadas ou com sentido implícito para além do sentido literal é mais frequente, dado que a necessidade de escolher e articular as palavras num período curto é mais difícil e, por isso, a probabilidade de errar é maior.  

Na comunicação social vive-se um momento muito especial. Os políticos, comentadores e analistas que, todos os dias, se acotovelam mutuamente para conseguirem passar a sua mensagem, entretêm-se a discutir uma palavra ou uma frase propalada por um dos intervenientes (ou por terceiros), acusando-o de um crime qualquer porque o sentido literal da mesma difere do sentido que o autor lhe atribuiu ou quis atribuir. Pior, depois de o autor explicar o sentido desejado, o oponente insiste em acusar o outro falante porque o sentido implícito da palavra ou frase não é (ou não se pretende que seja) aquele. Em vez de se discutir os assuntos seriamente, o tempo de antena é passado a arranjar factos alternativos e a acusar os outros de posições que, muitas vezes, são erradas.

sábado, 9 de agosto de 2025

Nem para cabaneiros servem

 

O meu pai utilizava muitas vezes a palavra “cabaneiro”, quando pretendia referir-se a alguém que não percebe muito da arte agrícola. O meu pai sempre trabalhou na agricultura, sendo um pequeno produtor de gado, vinho, milho, feijão e batatas, entre outros, pelo que tinha conhecimento das melhores técnicas utilizadas na produção de bens agrícolas.

O termo cabaneiro pode ter vários significados. Entre outras aceções, o cabaneiro é uma pessoa pobre que vive em cabana; também pode ser um trabalhador rural ou um jornaleiro. O meu pai utilizava o termo cabaneiro pejorativamente, pretendendo mostrar que se trata de alguém que, não sendo proprietário nem lavrador (apesar de, muitas vezes, ajudar outros a trabalhar a terra, necessitava de alguém mais experimentado que o orientasse), percebia pouco da arte.

Atualmente, os órgãos de comunicação social estão repletos de pessoas que comentam tudo com aparente propriedade. Na verdade, muitas vezes, trata-se de pessoas pouco rigorosas nos assuntos que tratam e desprovidas de vergonha.

domingo, 3 de agosto de 2025

Contias

 

Conforme o dicionário Priberam da Língua Portuguesa, contia é a “Retribuição dada pelo monarca a alguns dos que o serviam no paço ou na guerra.”

Em Portugal, nos séculos XIV e XV, havia vassalos a receber um rendimento da Coroa, em dinheiro ou em espécie, que podia ser fixo ou em determinados momentos (por exemplo, no casamento). As contias entregues eram a contrapartida dos serviços prestados ou a prestar ao Rei. Em muitos casos, os vassalos eram obrigados a possuir, por exemplo, determinado número de cavalos ou armas, para poderem ser usados na proteção do reino sempre que fosse necessário.