sexta-feira, 25 de abril de 2025

Mais casas para arrendar

 

O mercado de arrendamento continua a dar que falar: em época de campanha eleitoral, os partidos políticos digladiam-se na apresentação de medidas que permitam aumentar o número de casas disponíveis e diminuir o valor das rendas.

Há partidos que defendem a imposição de limites aos preços das rendas, para que mais pessoas consigam arrendar casas a preços mais acessíveis. Um aluno que estude economia no secundário sabe que a imposição de um preço inferior ao preço em equilíbrio provoca o aumento da procura e a diminuição da oferta, resultando no excesso de procura. Os tetos nas rendas não só não resolvem o problema como iriam agravá-lo. Mesmo que as rendas tivessem de descer (trata-se de uma imposição), à semelhança do que aconteceu noutros países que experimentaram esta medida, a oferta de casas para arrendar diminuiria drasticamente. No médio/longo prazo, o cenário seria ainda pior: menos construção; inquilinos a viver em casas piores (os senhorios não fariam as obras necessárias); mais inquilinos desprotegidos (mercado paralelo).

O problema da falta de casas para arrendar e o preço elevado das rendas ocorre porque a oferta é inferior à procura. Só a construção de novas casas (e a reabilitação de casas existentes) permite aumentar a oferta e diminuir os preços das rendas.  Este é um tema muito importante, porque tem um impacto elevado na qualidade de vida das pessoas, e por isso não deveria ser utilizado demagogicamente pelos partidos políticos.

domingo, 13 de abril de 2025

Dilema (ou paradoxo) de Triffin

 

Robert Triffin foi um economista que apresentou, na década de sessenta do século XX, no congresso americano, um dilema relacionado com a emissão de moeda (que funciona internacionalmente como moeda de reserva) que um país tem de fazer para gerar liquidez suficiente ao comércio internacional, endividando-se cada vez mais e, por essa via, pondo em causa a confiança na moeda. Há uma tensão constante entre o papel que uma moeda global terá de ter, assegurando a liquidez suficiente aos mercados, e a necessidade de equilibrar as contas externas do país emissor da moeda. Esta contradição ocorre porque a moeda é utilizada simultaneamente como moeda oficial de um país e é a moeda de referência no comércio internacional.

Para que haja comércio internacional, os países intervenientes necessitam de trocar as suas moedas. Para facilitar as trocas comerciais, os países podem utilizar uma moeda internacionalmente aceite, que seja da sua confiança, sendo que, atualmente, é o dólar dos Estados Unidos da América (EUA) que desempenha esse papel importante.

Imaginem que um país negoceia com 30 países. Sem a existência de uma moeda internacionalmente aceite e de confiança, os países aderentes ao comércio internacional teriam de manter grandes variedades de moedas de outros países. Para facilitar o comércio internacional, uma parte muito significativa das trocas é realizada em dólares americanos, servindo esta como moeda de reserva.   

No entanto, se houver muitos países a utilizar o dólar como moeda de troca, os EUA têm de fornecer a quantidade de moeda necessária. Um país que necessite de dólares terá de vender mais aos EUA do que importará daquele país, recebendo assim os dólares necessários para operar no comércio internacional. Se os EUA importarem, para a maioria dos países, muito mais do que exportam criam défices crescentes e veem-se forçados a optar por uma de duas soluções negativas: aumentar continuamente o seu défice comercial e financiar as trocas globais ou abdicar de défices e provocar falta de liquidez no comércio internacional.

Além disso, se um país cuja moeda é utilizada preferencialmente no comércio internacional (como os EUA) continuar com défices cada vez mais elevados, endividando-se cada vez mais, no longo prazo a sua moeda perderá a confiança e desvalorizar-se-á.

Resumindo, se os EUA optarem por manter a sua moeda como reserva global e, por isso, acumularem défices prevê-se a perda de confiança no dólar; se os EUA quiserem diminuir o défice haverá menos dólares e, por isso, faltará liquidez nos mercados e gerar-se-á instabilidade económica e financeira.